quinta-feira, 28 de julho de 2011

Chegada a Cusco... finalmente


Às 14h40 chegamos em Cusco. Mas isso depois de um turbulento desembarque em Lima para a última conexão. Uma correria louca, porque as filas estavam gigantescas tanto para passar na Imigração quanto para fazer o chek-in na Lan, a companhia que faz os voos até Cusco. Deu para suar. A gente com a mochila nas costas, esbaforidos, percorrendo as distâncias quilométricas do aeroporto, mais parecia uma dupla de personagens de pastelão americano.

Os peruanos, funcionários da companhia aérea, só faziam repetir que era preciso entrar na fila, mesmo diante da nossa desesperada tentativa de explicar que o nosso próximo voo estava para sair. Mesmo sem bagagem para despachar – aliás, acho que viajar só com “equipaje de mano” é a nossa vantagem – não conseguimos nos livrar da concorrência com a multidão e suas malas monstruosas.. O consolo é que tinha muito mais gente na mesma situação, inclusive um jovem casal paulistano que também embarcaria para Cusco e uma moça de Brasília.

Foi naquele momento de confusão também que fizemos a nossa primeira descoberta. O espanhol que se fala no Peru é mais enrolado do que o falado na Espanha. Acho que o sotaque, a velocidade e o tal do quéchua confundem a gente completamente. E eles não se fazem de rogados e continuam falando, falando, como se a gente tivesse entendendo tudo. Em muitos casos, melhor foi optar pelo inglês.



Direto do avião... Bate-papo com o caderninho


Agora sim, rumo a outros ares não brasileiros.

Depois do trecho Brasília-São Paulo, começa a segunda parte do trajeto (são três), que vai nos levar até Cusco, no Peru. Agora vou de classe executiva (por uma questão de milhagens, apenas...rrrss) e descobrir por que se paga tão caro para viajar mais perto do piloto.

Comecei a medir as diferenças... As cadeiras são mais largas, há apenas doze lugares e já encontrei um edredon na poltrona esperando por mim. E nem bem se passaram os primeiros minutos, a aeromoça logo surgiu com sofisticadinhos copos vermelhos de design arredondado, oferecendo água e suco de laranja.

Enquanto isso eu ainda tentava descobrir o que fazer com aquele edredon (enorme). Olhei para os vizinhos tentando copiar alguma ideia confortável e prática, já que eu não estava com frio suficiente para desempacotá-lo e me cobrir...

Nem bem havia passado a água, mais uma aeromoça sorridente chegou com balinhas e uma outra se apresentou com um kit plastificado cheio de apetrechos. E Paulinho lá atrás? Talvez ele fosse curtir mais do que eu – não sei – mas foi gentil e preferiu me colocar aqui, até porque não havia mais vagas na categoria econômica...

Tudo bem... Continuemos.

Ainda nem saímos o chão e vêm mais coisas. Agora são revistas e jornais. Ah! Ia me esquecendo. O cardápio de comida mediterrânea! rrrsss

Eita! Agora vem a pulverização da cabine, "como recomendam as autoridades sanitárias internacionais", disse o comissário. Coisas da globalização para evitar o transporte de vírus, bactérias, sei lá...

Bem, voltando ao cardápio concebido pelos premiados chefs Sérgio e Javier Torres (até bonitinhos na foto)

Será que tem carne? Tem os tais embutidos, mas também tem frutas, pães quentes, wraps de queijo emmenthal, tomate, omeleta recheada com presunto cru (xiiiiiii), queijo de Minas e tomate, concassé, Chivas e licor Barley’s. Será que é tudo isso ou tenho que escolher?

Detalhe: os responsáveis pelo cardápio são também os responsáveis pelos restaurantes Dos Cielos (Espanha) e Eñe (Brasil), e trabalharam em outros que, somados, reúnem 24 estrelas Michelin (??) – provavelmente algum tipo de classificação especial que garante requinte e qualidade.

E eu que trouxe uma palavra cruzada amassada que achei lá em casa, pensando que não ia ter o que fazer nas próximas cinco horas... Tem leitura à bessa e ainda dá para dormir quentinho...de barriga cheia, claro!

E Paulinho lá atrás??? Neste momento, sou uma peregrina de Santiago de Compostela, doida para chegar à trilha de Salkantay, atolada em conforto (rrrssss)...

Paulinho acaba de passar por aqui para uma espiada.

Ah! Lembrei! Na bolsinha que foi distribuída para os abastados tem até um par de meias (ou coisa parecida), além de pasta e escovinha de dentes. Legal! Vai ser útil depois da viagem...

Esta é a primeira vez que estou levando um caderninho... No Caminho de Santiago, ano passado, pensei em relatar tudo e inventei um blog (aliás, este blog aqui)... Que besteira. Está abandonado. É bem verdade que postei algumas coisas, fui extremamente sincera, mas fazer o que pretendia, que era dizer todos os dias o que estava acontecendo, falar sobre minhas percepções e experiências espirituais no Caminho, nada disso rolou. Até porque o Caminho não merece ser congelado em palavras. Ele é um start, uma construção diária que acontece a partir daqueles momentos reais, se prolonga pelo resto da vida, transforma.

E mais: eu nem saberia como descrever tudo. Decidi que o melhor era me abstrair dos compromissos e o blog seria um compromisso – o de me disciplinar a ponto de ter que escrever todos os dias.

Cada peregrino é um peregrino, cada um tem uma história, uma razão muito particular para estar ali. O Caminho chama e nos conduz, nos empurra, nos leva suavemente para uma direção que transcende qualquer tentativa de definição. Por isso, minha opção inconsciente foi guardar, então, as experiências para mim... O Caminho não é um roteiro de viagem, uma aventura, uma diversão – apesar de, é claro, ter seus momentos turísticos, curiosos, descontraídos.

Mas, desta vez, até pelo caráter da viagem, me deu vontade de escrever e pode ser que aconteça alguma coisa, como publicar tudo isso em algum lugar. Mesmo o destino sendo um lugar muito especial também, como Machu Pichu e toda a sua aura de mistério e magia, esta pode ser uma oportunidade interessante para compartilhar as experiências...

Tudo isso, no entanto, tem que ser na hora, no momento em que estiver sentindo, vendo, não dá para deixar para depois. Como agora mesmo estava lendo um artigo da diretora de Redação da Revista TAM nas Nuvens, Cindy Wilk, sobre como ela se sentiu “nua” quando resolveu viajar e deixar o laptop em casa. Ela comenta inclusive sobre o autor Paul Teroux, que considera o ato de viajar um ato de “desaparecimento” que resulta no entendimento da experiência. Segundo ele, só leva um celular “mequetrefe” e um radinho de ondas curtas...

Acho que concordo com ele – só dispensaria o radinho e o celular, que, no meu caso, raras vezes funciona...

Bem, mas voltando ao cardápio da primeira classe, depois descobri (ou pelo menos desconfiei) que se tratava do café da manhã e não do almoço. Os sabores mediterrâneos eram destinados à primeira refeição do dia! Aliás, acho que ainda devia ser de manhã (perdi a noção de tempo, porque acordei às três da manhã e já estava no segundo vôo do dia). Cafezinhos já havia tomado pelo menos dois – um em cada aeroporto.

Só que havia um detalhe: como o avião estava indo no sentido contrário da rotação da Terra, ou seja, as horas estavam voltando, fazia mais sentido que fosse mesmo o café da manhã e não o almoço, apesar da sofisticação e do exotismo das opções.

Minha escolha, então, foi pelo wrap de tomate, que na verdade era uma panqueca parecida com a que minha mãe faz (ou estava mais para um crepe?) Tinha também frutas, entre elas um morango tão grande, lustroso e perfeito que não tive coragem de comer. Seria transgênico, peruano ou o quê? O abacaxi, os pedacinhos de mamão e o kiwi estavam ótimos e com aparência mais normal...

Além disso, tinha uma travessinha com dois pedaços de queijo: um branco e outro muçarela, mas só comi o branco. Do wrap também só comi a metade da porção.

Tinha manteiga, pãezinhos, croissants e geléia (o que confirmou a minha teoria do café da manhã), mas por outro lado tinha vinho!

A delicadeza da bandejinha também foi à parte. Toalha florida, guardanapo de pano – nada descartável. Antes, a aeromoça trouxe paninhos umedecidos e quentes para higiene das mãos...

Paulinho e eu já estamos nos articulando para trocar de lugar um pouquinho, na próxima refeição (rrss).

Dei uma passada pelo lado de lá da cortina que divide os supostos chiques dos outros e realmente há mais diferenças. Do lado de cá é mais tranquilo, sem o vai-vem de gente a caminho do banheiro, de pé ou sentada nos braços das poltronas, na tentativa de aliviar o incômodo de longas horas sem se movimentar. O espaço onde lá existem três poltronas, aqui na primeirona são acomodadas apenas duas, bem largas, de assento mais confortável – alguma coisa do tipo “cadeira do papai”.

Agora as aeromoças estão passando, com ofertas de produtos duty free. E, claro, sempre há quem não resista aos impulsos que criam necessidades sem qualquer pudor no que diz respeito à real utilidade do que vai ser comprado.

....

Ai, Jesus!

Até chegar em Lima, foram três insistentes avisos de atar cintos de segurança. Era a tal zona de turbulência... Aquela dita cuja que tem o poder de deflagrar nas nossas mentes os filmes das nossas vidas, lembrar de todos os parentes e acionar todos os santos protetores . Isso durante longos minutos – aliás, muito longos, que só foram esquecidos depois de uma providencial dose de espumante rapidamente servida aos passageiros (da primeira classe, claro!) Paulinho, por exemplo, teve que recuperar a cor e se livrar do amarelão e do risinho visivelmente nervoso, sem a ajuda de nada para relaxar... Depois fiquei sabendo que na regiáo dos Andes essas turbulências são muito comuns por causa da altitude e dos fortes ventos.

Finalmente, depois de pouco mais de cinco horas de voo, o comandante avisa que vamos pousar. Temperatura 18 graus (até que não está tão frio. Ufa!) Daqui até Cusco, nosso destino, temos mais quase duas horas. Mas, tudo é festa! Como diria no popular, tô nem aí! Afinal, tínhamos escapado da turbulência (e bota turbulência!). Verdade! E olha que eu praticamente nasci dentro de um avião, adoro voar, mas desta vez a coisa ficou meio feia... Que venha a próxima etapa! Salve, São Jorge, São Francisco, Nossa Senhora e Santiago que nos salvaram dessa.

Hora local: meio dia e alguma coisa – duas a menos que em Brasília.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aventura Peruana


Foram muitos meses de silêncio e abandono neste meu (literalmente) modesto espaço de compartilhamento tecnológico... Mas, como ele é meu mesmo, paciência...
Só vai rolar alguma coisa quando der vontade (arianamente falando...rrrrrssss). Como agora.

Depois de uma jornada de duas semanas por terras peruanas e muitas anotações em um caderninho (pouco criativamente) batizado de Diário de Bordo, vou começar a publicar nossa aventura aqui. Portanto, será preciso tolerância e calma – minha, para suportar as limitações do meu notebook nas postagens, e de quem quiser acompanhar o que andei registrando. Certamente, as fotos vão falar muito mais do que meus rascunhos... E as emoções, nem as fotos vão conseguir traduzir. Mas, enfim, vamos nessa...

Acho que muita coisa ficou para trás, sem o registro no dia em que aconteceu, por isso, tomarei a liberdade de acrescentar algumas impressões tardias. Era praticamente impossível, por exemplo, pensar em escrever na noite que estivemos aos pés de Salkantay, um monte nevado (e congelado), no escuro absoluto e a uma temperatura de sete graus abaixo de zero... Passamos a madrugada inteira rezando para o dia amanhecer, porque dormir com tanto frio era impossível...

E assim foi nos outros dias, depois das longas jornadas pela trilha rumo a Machu Pichu, quando a única vontade era entrar no saco de dormir e, claro, dormir, porque nem bem o dia amanhecia a gente já devia estar na estrada... Nossos deliciosos cafés da manhã peruanos eram devorados no acampamento, ainda no escuro, por, nós, criaturas empacotadas. Escrever, como?? Os dedos praticamente não se moviam mais... As temperaturas nessa região do Peru simplesmente despencam em pouquíssimos minutos quando o sol começa a se por e aí, só Deus na causa...

O fato é que acumulei experiência, muito conhecimento, emoções e um profundo respeito pela cultura peruana daquela região, que se orgulha da terra em que vive e preserva uma história que tem satisfação de contar... Muitas vezes ouvimos alguns peruanos dizerem que o que o turista vê nem sempre é o real, mas prefiro ignorar isso e guardar comigo apenas o que senti estando com as pessoas.

O melhor da história é que fui apenas uma convidada numa aventura que, na verdade, era o sonho de Paulinho, meu companheiro. Era dele o desejo de ir a Machu Pichu, adiado durante trinta anos. Também foi dele a idéia da trilha a pé, indo por Salkantay até a cidade sagrada. Enfim, eu tive apenas o privilégio de dividir tudo isso com ele. Assim, como embarcou no Caminho de Santiago de Compostela comigo, ano passado. Aliás, vale lembrar que ele nasceu no dia 25 de julho, dia de Santiago e que o ano passado foi um ano jacobeo, em que o 25 de julho cai no domingo.

E como se não bastassem as coincidências, este ano em que estivemos em Machu Pichu é comemorado o centenário da descoberta da cidade... O que dizer mais??

Foram 15 dias muito especiais... E que inacreditavelmente terminaram de um jeito que contando ninguém consegue acreditar... Nem eu, se não tivesse testemunhado e com a certeza de que não sonhei.

Na véspera de voltar para o Brasil, perambulando em Cusco, encontramos Fernando, um dos amigos brasileiros que conhecemos ano passado, também peregrino do Caminho de Santiago! Só mesmo uma conexão divina para explicar como poderíamos nos rever, exatamente um ano depois, e em um lugar completamente diferente...Dizem que "até as pedras se encontram" - agora tenho certeza.

Bem, mas, vamos lá... Tenho quase um caderninho inteiro para digitar... rrrsss

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E o Caminho continua...


















2010 termina hoje.
Mais algumas horas apenas e as pessoas começam as comemorações pelo ano que está chegando e, claro, todos esperam que traga muitas coisas, satisfaça os desejos, realize os sonhos, enfim...
É o frisson coletivo que se transforma em energia e acaba contagiando até mesmo quem jura de pé junto que não liga para nada...
Bem, 2010 para mim foi emblemático, mágico, santo, abençoado. O marco que imperceptivelmente está provocando mudanças, redirecionando atenções, definindo minha passagem por aqui.
Só tenho a agradecer. Muito. Sempre.
Para o ano que está "bem-vindamente" chegando, quero apenas dedicar o meu esforço, oferecer a minha vida, o meu amor a tudo o que Deus quiser que eu faça.
Estarei sempre pronta a continuar o meu Caminho, dia a dia, pelas estradas, sejam elas quais forem...

Obrigada, São Francisco, pela inspiração
Obrigada, São Jorge, pela força e proteção
Obrigada, Santiago, pela orientação no Caminho
Obrigada, Maria, pelo perdão nos momentos de fraqueza
Obrigada, meu Deus, por estar aqui...